
Uma
das maravilhas, uma das “coisas” que mais fascinam e ao mesmo tempo
assustam as pessoas em um templo de Umbanda são as incorporações. É o
fenômeno mediúnico, a cessão do corpo e da mente de um médium a outra
inteligência, a outro espírito.
Mas antes de
falarmos propriamente da mediunidade nos terreiros, a mediunidade da
Umbanda é preciso conceituar a mediunidade, ou tentar fazê-lo. Nome
criado pelo codificador do espiritismo ao trabalhar com o termo meio,
intermediário.
Ou seja, o médium é o intermediário, aquele que percebe, que
capta, que sente a presença das energias, dos espíritos desencarnados,
ou melhor, de espíritos, de seres e de energias de outros planos
astrais.
Como se pode observar a
mediunidade apesar de assim determinada por Kardec no final do século
XIX é fenômeno muito mais antigo, sendo provavelmente tão antigo quanto a
existência da vida em nosso planeta. Os profetas do antigo testamento,
Jesus Cristo, Moisés, Buda, Confúcio, e tantos outros personagens de
nossa história com certeza são exemplos de médiuns.
Isto
nos traz uma indagação: existe alguém que de uma forma ou de outra não
tenha alguma interação, ou que não sofra nenhuma influência de outros
planos, dos espíritos, para não ser considerado médium?
Certamente
que a resposta será negativa. De uma forma ou de outra sempre seremos
influenciados, e sentiremos a presença de outras energias e espíritos,
por isso que se fala que todos os seres humanos são médiuns.
Mas,
você poderá perguntar: “se todos somos médiuns, todos poderemos
trabalhar com a nossa mediunidade? Receber espíritos? Nos comunicarmos
com eles de forma direta e inteligível?” E é neste ponto que precisamos
fazer uma diferença.
Existirão aqueles em que
suas mediunidades serão afloradas de uma tal forma que, seja por meio da
incorporação, da visão, da escrita, da intuição, etc., ele ou ela
poderão traduzir a vontade, as palavras, a força, as necessidades dos
seres de outros planos astrais, e assim dos desencarnados (espíritos que
já estiveram encarnados) de uma forma inteligível, e outros não
conseguirão assim proceder. Assim digo que os médiuns que por uma das
diversas formas de mediunidade possam expressar o pensamento de outros
seres de outros planos são os médiuns de trabalho.
Isto
não quer dizer em hipótese nenhuma que esses médiuns de trabalho
possuem um dom, uma dádiva. Pois a mediunidade não é um presente, uma
benesse divina para alguns escolhidos.
É sim
uma faculdade que Deus por meio dos Orixás dá a alguns indivíduos para
que por meio desta faculdade possam resgatar suas dívidas, ao mesmo
tempo em que levam a vontade e a força dos Orixás, que permitem que
espíritos menos evoluídos possam receber ajuda e energias divinas. Ou
seja, ser médium não faz de ninguém um ser melhor, não é o mais
especial, ou o mais abençoado, é um espírito igual a todos, e como
todos, deve buscar um caminho para abdicar de suas vaidades, orgulhos e
de seu egoísmo. É um ser que dentre inúmeras ferramentas que os Orixás
nos dão, recebe a ferramenta chamada mediunidade.
Mas,
ao mesmo tempo em que não é um dom, com certeza é uma responsabilidade,
pois deverá fazer bom uso de sua faculdade. Se a mediunidade é um
instrumento, uma ferramenta cabe a nós, médiuns, utilizá-la com muita
fé, amor e responsabilidade.
Seguindo nossa
abordagem sobre este tema tão interessante, é preciso darmos ao menos
uma pincelada sobre os tipos de mediunidade.
A
mediunidade poderá se manifestar de inúmeras formas, ou seja poderemos
perceber e entender a atividade mediúnica das seguintes maneiras:
a)
A intuição, a mais primária e primordial manifestação da mediunidade. A
intuição é quando captamos de uma outra inteligência de uma outra mente
que não a nossa alguma informação ou aviso. É aquela voz que se forma
no fundo de nossas mentes, uma idéia relâmpago, que do nada surge, mas
que sabidamente parece que nos foi assoprada. Um exemplo da intuição se
deu comigo: em uma ocasião eu e minha esposa, na época minha namorada,
estávamos parados no sinal vermelho em uma ladeira. Um pouco antes do
sinal abrir veio uma vontade de deixar o carro descer de ré a ladeira, e
assim o fiz. Parei, e como se algo me dissesse demorei alguns segundos
para arrancar o carro quando o sinal abriu. Mas foi o suficiente para
evitar um grave acidente. Um veículo grande furou o sinal em alta
velocidade. Se eu não tivesse deixado o carro descer, ou mesmo se
arrancasse imediatamente ao ver o sinal verde, muitas coisas estariam
diferentes hoje. Saber ouvir e interpretar estes pequenos avisos é um
dos grandes desafios de todos nós. Quem não tem uma história parecida
que antes de fazer alguma coisa não escutou um aviso e não deu bola e
algo aconteceu?
b) Outra forma da mediunidade é
a própria percepção sensorial, a sensibilidade. Ou seja, é a capacidade
de sentirmos a presença de outros espíritos, de sentirmos as energias, e
que tipo de energias estão naquela localidade naquele momento. É aquela
situação em que entramos em uma casa e apesar de tudo estar bonito,
organizado, algo nos oprime, nos angustia, pesa em nossos ombros e
cabeças. Ou então quando adentramos em local que apesar de estranho, e
desajeitado sentimos uma paz, um conforto, uma força positiva nos
inundando. Ou então quando vamos ao mar e sentimos sua força, adentramos
nas matas, ou adentramos num açougue, numa festa mais radical. Quem
percebe estas diferenças possui uma sensibilidade mediúnica.
c)
A vidência. Vidência é a capacidade de enxergar, de visualizar os
espíritos, seres ou objetos de outros planos. É aquela forma de
mediunidade que muitos temem, se apavoram e pedem para não ter com medo
de encontrarem em suas camas e quartos outros espíritos. A vidência é
assim a capacidade de visualizar o outro plano. Digo visualizar porque a
vidência poderá ser mental (formação das imagens, dos espíritos, etc.
na mente, não precisando a pessoa estar de olhos abertos) ou então
poderá ser expressa pelos olhos físicos, ou seja a pessoa vê, enxerga o
outro planos como enxergamos este texto no computador ou no papel.
d)
A clarividência, é assim uma especificidade da vidência, que pode ser
entendida como a capacidade de enxergar situações que acontecerão no
futuro.
e) A psicografia, ou a mediunidade da
escrita é outra forma. São aqueles momentos em que os médiuns por meio
de caneta, lápis e papel e hoje alguns por meio do próprio teclado do
computador, conseguem dar vazão a idéias e pensamentos, conseguem
descrever situações, orações e acontecimentos ditados por outros seres.
f)
A psicofonia, ou a mediunidade da fala. Ou seja, a mediunidade que se
expressa por meio das cordas vocais. O médium descreverá, ou passará os
pensamentos dos espíritos por meio de sua fala.
g)
A mediunidade de materialização ou de efeitos físicos, ou seja a
capacidade de dar forma visível e palpável a objetos, energias e
espíritos de outros planos, ou mesmo a capacidade de desmaterializar, ou
seja de fazer com que determinado pedaço de matéria deixe de existir. É
a mediunidade usada nas curas físicas, ou nas aparições coletivas.
h)
Ainda existirá a mediunidade das pinturas, composição de músicas,
escrita direta, entre outras formas que não são tão usuais na Umbanda.
i)
E é claro a mediunidade de incorporação, que não é o mesmo que
psicofonia, pois é a capacidade de se permitir que um espírito use seu
corpo (movimentos) e sua fala de uma só vez. A mediunidade de
incorporação é a mais usual e facilmente identificada em um terreiro de
Umbanda.
Percebam que eu me dirijo a formas de
mediunidade e não de médiuns. Não se pode dizer que existam médiuns
videntes, médiuns de incorporação, e assim por diante. Médium é médium,
poderá sim ter mais facilidade para praticar e exercer uma determinada
mediunidade, mas em algumas situações ou em alguns momentos da vida
poderá ver surgir outras formas de mediunidade. Pois como ser médium é
ser um intermediário, a forma como isto se dará não é o mais importante,
e poderá ser alterada durante uma jornada na Terra.
Depois
de entendermos que a mediunidade se manifesta e pode ser perceptível de
várias maneiras, e entendermos que os médiuns são intermediários,
tradutores das mensagens de outros planos astrais, passamos a estudar os
tipos de médiuns.
Os médiuns podem ser classificados em conscientes, inconscientes e semi-conscientes.
Os
médiuns conscientes são aqueles que percebem de forma plena tudo
enquanto estão em exercício da mediunidade. Assim vão se lembrar do que
viram, ouviram, escreveram, etc.. Mesmo durante a incorporação estarão
com o pleno domínio de suas faculdades materiais, podendo interferir a
qualquer momento na manifestação mediúnica. De uma forma geral todos os
médiuns de Umbanda começam suas incorporações de forma consciente.
Alguns com o passar do tempo passam a ser semi-conscientes.
Os
médiuns semi-conscientes são aqueles em que apesar de lembrarem de suas
manifestações, perdem em muito a noção de tempo, não têm 100% do
domínio de sua fala e corpo. Mas isto não quer dizer descontrole, apenas
que os movimentos são feitos e as falas professadas e a escrita
realizada de forma simultânea, como se assistissem seu movimentos.
Os
médiuns inconscientes são aqueles que durante as atividades mediúnicas
perdem completamente a consciência, como se dormissem um sono profundo.
Não há qualquer vestígio de memória no período da manifestação. Este
tipo de médium é muito raro e está fadado a extinção, pois o importante é
que o médium durante seu trabalho possa também receber os ensinamentos.
Além da garantia que se tem contra as mistificações.
Na
psicografia e na pintura/escultura mediúnica poderá ainda existir outra
forma de médiuns que são os médiuns mecânicos, que apesar de manterem
sua consciência estarão escrevendo ou pintando sem sequer ter noção do
que estão fazendo. É como se os braços ou pés se movimentem sem a
vontade mental do médium.
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